MOBILIDADE EM CASCAIS – DA REVOLUÇÃO AO EMBUSTE
Há muito tempo que queria abordar
este tema mas fui adiando à espera de perceber melhor que plano foi traçado
pela Autarquia de Cascais para abordar este tema.
Em Cascais, habituámo-nos a que há
sempre parte da história que não é do conhecimento público!
Julgo que hoje estão
identificados alguns dados conhecidos e muitos que deveriam ser do conhecimento
público e não são.
Começo por afirmar que da minha
experiência profissional que me obrigou a fazer alguns contatos com a Scotturb,
ficou evidente a total ausência de espírito de serviço público daquela empresa
pelo que não me choca, por essa razão, a vontade da CMC em terminar a ligação
com a Scotturb e começar uma nova relação com outra, talvez com regras mais
claras e de maior defesa do interesse público dos munícipes e utentes dos
transportes em Cascais.
Quero também referir que no meu
entendimento a questão da mobilidade, nos seus mais variados aspetos, é de
crucial importância para quem queira intervir na qualidade de vida da população
e na sustentabilidade ambiental. Por isso, fez bem a Câmara Municipal de
Cascais em eleger este tema como pilar fundamental das políticas da Câmara.
Mas a abordagem escolhida pela
Câmara tem muitas lacunas, muitos aspetos que ficam por obter resposta e,
exclusivamente para o transporte interno, gera uma despesa que parece, dada a
inexistência de dados públicos que a justifiquem, ser exageradamente grande
para o benefício criado.
Abordemos primeiro a questão da
mobilidade no seu todo.
Cascais, enquanto concelho
integrado na área metropolitana de Lisboa Norte, tem questões fundamentais ao
nível da mobilidade cujas soluções não podem ser encontradas de costas voltadas
para os restantes municípios que compõem esta região.
Cascais está longe de conseguir
ter emprego suficiente para a totalidade dos seus munícipes pelo que diariamente
uma boa parte dos habitantes de Cascais têm que se deslocar para os seus
empregos em Lisboa, na sua maioria, mas também para Oeiras e para Sintra.
Ora o problema de mobilidade de
Cascais, é o problema da mobilidade em Cascais e de Cascais para outros
destinos envolventes e desses destinos no regresso a Cascais. Pensar que se
resolve o problema da mobilidade dentro de Cascais sem mexer nas soluções de
Cascais para os outros concelhos limítrofes é petulante e pouco inteligente.
Uma solução integrada de mobilidade
tem que olhar para as deslocações internas, para as ligações com os outros
concelhos, tem que existir uma política de estacionamento gratuito junto das
estações dos comboios e dos terminais rodoviários, e um esforço em captar novas
empresas que criem emprego que permitam diminuir os movimentos pendulares de
habitantes de Cascais para outros concelhos.
Cascais fez quase tudo ao
contrário.
Ao invés de lutar por uma boa
solução de transportes públicos na área metropolitana preferiu virar costas e
apostou no orgulhosamente só!
O problema é que Cascais ainda
não é uma ilha e Carlos Carreiras, embora com algumas semelhanças a Alberto
João Jardim, é presidente da Câmara de Cascais e não do Governo Regional da
Madeira.
Apostou no transporte gratuito
para os residentes e os que trabalham em Cascais. Isso significa que resolveu o
problema, ou pelo menos tentou fazê-lo, a que franja da população?
20% da população?
Mais?
Menos?
Se existem estudos, estão
guardados a sete chaves. E eu quero acreditar que existem estudos porque se
todas estas decisões assentaram apenas no “feeling” ou no capricho, então é
caso de Ministério Público porque com o dinheiro dos outros não se brinca!
E os estudos deveriam ser de
conhecimento público.
Gostaria de ver quantos utentes
utilizam a solução criada, qual o custo por cidadão transportado, que
quantidade de carros deixaram de circular devido à implementação deste novo
sistema de transportes, qual o valor estimado de poupança de consumo de
combustíveis fósseis e de emissão de gases de efeito de estufa, que evolução está
a acontecer na utilização do sistema.
Ao invés a Câmara comunica apenas que tem novos autocarros, que são muito mais confortáveis, que implementou mais carreiras e que toda esta “festa” é gratuita para o utente destes transportes (como se não fosse os impostos de todos os munícipes, dos que utilizam e dos que não utilizam este sistema de transportes, que suporta tudo isto!).
Quero acreditar que a amostragem
que vejo diariamente não reproduz a média da utilização diária. Como trabalho
em Sintra, tenho que sair cedo e volto a circular no concelho ao fim do dia. Se
de manhã ainda me cruzo com alguns autocarros com alguns utentes, ao fim do dia
é um
corrupio de autocarros vazios.
Mau dimensionamento da frota,
inexistência de campanha de mudança de hábitos dos munícipes em termos de
mobilidade ou insuficiência das soluções existentes para as reais necessidades
dos munícipes?
Para quem paga impostos em
Cascais e não pode utilizar a solução implementada porque não responde às suas
necessidades já deveria de haver justificações públicas, ou estou enganado?
Mas não contente com tudo isto,
há uma reclamação de um concorrente que perdeu o concurso, por acaso a
Scotturb, que viu o Tribunal dar-lhe razão, no sentido de que o concurso
público deveria ter ditado a adjudicação a esta empresa e não à que foi
declarada vencedora, os espanhóis da Martin que começaram em 25 de maio a
operação em Cascais.
A Câmara de Cascais contestou a
decisão do Tribunal e aguarda o veredito.
Numa situação normal, a Câmara de
Cascais deveria ter agido com prudência e aguardar o veredito dos Tribunais
sobre esta matéria antes de iniciar a concessão, geradora de investimentos de
milhões de euros e que, se o Tribunal acabar por dar razão à Scotturb, alguém
terá de pagar.
Qual alguém?
O do costume, o erário público, o
dinheiro dos nossos impostos.
Qual o porquê desta pressa e dos
riscos enormes que lhe estão associados?
As eleições autárquicas.
Carlos Carreiras como recandidato
à Presidência da Câmara, Miguel Pinto Luz como Vice-Presidente e responsável
por este pelouro e Nuno Piteira enquanto Presidente da concelhia de Cascais do
PSD não quiseram perder a oportunidade de utilizar toda esta parafernália de
autocarros e novas carreiras para a campanha eleitoral.
Permitam-me a pergunta: Se o
Tribunal deliberar dar razão à Scotturb e houver pagamentos de indemnizações,
vão ser contabilizadas nas contas da Câmara de Cascais ou nas contas da
campanha autárquica do PSD?
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