DINAMIZAR CASCAIS: ASSIM?
A Câmara Municipal
de Cascais tem vindo a anunciar diversas medidas que pretendem dinamizar o
comércio e a actividade económica em geral no concelho e especialmente na vila
de Cascais.
O objectivo é
meritório, merece aplauso a prioridade estabelecida pelos responsáveis
autárquicos mas o caminho seguido
merece-nos muitas dúvidas quanto à sua eficácia.
Algumas das ideias
anunciadas parecem ser, no entanto, ou notícias mal tratadas pelo jornalista ou
são mesmo peças de um puzzle de um certo embuste da opinião pública.
Atente-se neste
caso que junto a título de exemplo.
São referidas nesta notícia duas situações que vale a pena
escalpelizar.
Um primeiro aspecto
é a fusão de empresas municipais com o objectivo de “racionalizar a gestão e
captar o investimento estrangeiro”.
Para mim continua a
ser um mistério a fusão da ETE (Empresa de Turismo do Estoril) com a ArCascais
(Aeródromo Municipal de Cascais) e a Fortaleza de Cascais (empresa que gere a
Piscina Municipal de Abóboda). O que podem ter em comum é de facto uma incógnita.
A promoção do turismo, a gestão de uma infra-estrutura aeroportuária e a gestão
de piscinas é uma autentica salada
russa.
O perfil do gestor
de uma empresa destas deve ter que falar línguas, saber voar e nadar,…
O que se vai conseguir dinamizar no meio desta amálgama
empresarial é um segredo bem guardado nos Paços do Concelho!
Já a parte da
notícia que refere que Cascais vai passar a receber barcos de cruzeiro,
deixa-nos um conjunto de interrogações para as quais temos muitas dificuldades
em encontrar respostas transparentes.
Um primeiro
conjunto de perguntas remete-nos para a fiabilidade de uma operação deste tipo
e a possibilidade de ter as necessárias autorizações.
Todos sabemos que o
Porto de Lisboa tem o exclusivo para estas operações e dispõe das
infra-estruturas necessárias para a recepção deste tipo de navios.
É sabido que o
Porto de Lisboa não pratica as taxas mais baratas do mercado mas também é
conhecido que nos últimos anos tem subido a procura de Lisboa como escala deste
tipo de navios. A que título abdica a Administração do Porto de Lisboa de
receber em Lisboa alguns destes navios? Aceita que seja estabelecida
alternativa com fuga ao pagamento das taxas portuárias?
E a Capitania do
Porto de Lisboa vai permitir que barcos de cruzeiro passem a fundear ao largo
de Cascais e possam fazer a “trasfega” de passageiros para embarcações mais
pequenas?
E as condições de
segurança? Não estaremos a aligeirar?
Que imagem vão ter
esses passageiros de Portugal e de Cascais? Nem um “mísero” porto para poder
sair do barco por uma rampa como em todos os outros portos por onde passam?
E o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras aceita que os passageiros possam desembarcar em
Cascais sem qualquer tipo de controle nos casos em que não sejam oriundos do
Espaço Shengen?
Considero que, a
bem da transparência, seria importante explicar melhor como este negócio está a
ser montado, quem são os intervenientes, quem autorizou e em que condições, que
vantagens tiram todas as partes envolvidas.
É muito importante
saber se é apenas uma empresa ou se são várias que estabeleceram este “acordo”
com o Município de Cascais, quem é ou são os detentores dessa(s) empresas, há
ou não investimentos a fazer pelo município de Cascais.
Nos corredores dos
Paços do Concelho correm muitos rumores sobre “este negócio”. A bem da
transparência era muito importante que fosse explicado. Bem explicado!
A ideia de trazer
estes visitantes a Cascais é meritória,
como medida de dinamização do comércio local mas, convenhamos, era
importante que a imagem deixada aos visitantes fosse a melhor.
O primeiro
exercício que deveríamos fazer era a avaliação das condições que temos para
oferecer aos visitantes e se conseguimos garantir a sua satisfação com o que
vai encontrar.
O desembarque, tal como está planeado, não parece ideia
promissora...
E que tipo de
comércio temos nós para oferecer na zona central da vila de Cascais? Não
seria interessante fazer um esforço para fazer regressar as grandes marcas ao centro de Cascais, as
lojas de souvenirs, o artesanato? Queremos os visitantes a entrar em Cascais
para comer uns hambúrgueres e comprar uns brindes nas lojas chinesas?
O município de
Cascais de há mais de vinte anos que tem sido muito descuidado no planeamento
do tecido comercial da vila, os investimentos absurdos em Centros Comerciais
acabaram por deslocalizar a oferta comercial no concelho e assistiu-se a uma
certa desertificação comercial do centro de Cascais. Hoje a Rua Frederico
Arouca, a Av. Valbom, o acesso à baía e o Largo Camões estão longe da
pujança que já tiveram.
Sem essa valência resta alguma oferta cultural, com o
núcleo museológico muito interessante na envolvência da Cidadela de Cascais.
Será suficiente?
Resta-me colocar
uma última pergunta: não seria mais vantajoso negociar com as empresas
turísticas que detêm os programas de cruzeiros e garantir a realização de
roteiros do Porto de Lisboa em direcção a Cascais em autocarros e evitar o
aspecto terceiro mundista de transferência de passageiros de barco para barco
ao largo de Cascais? Para os operadores
dos cruzeiros poderá ser mais barato mas é esta a imagem que queremos deixar de
Cascais junto dos turistas que nos visitam?
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