Responsabilidade Social e Sustentabilidade – Entre o dizer e o fazer tudo pode acontecer!
Em 2002, quando, a convite de
Esta empresa, criada em 1997 pela Tratolixo, em parceria com a IPODEC, atravessava na altura algumas dificuldades, tinha um passivo de cerca de 400.000 €, mas era um projecto que merecia um esforço de reorganização e recuperação económica.
Com uma política comercial mais agressiva, com a reestruturação da estrutura de produção, com a beneficiação e ampliação das instalações de tratamento, conseguiu-se recuperar a empresa e passá-la para um patamar de rentabilidade e recuperação do passivo.
Em
Em finais de 2008 foi negociado com a IPODEC a venda dessa participação por cerca de 400.000 €.
A IPODEC, agora grupo EGEO, dividiu este investimento com a SAPEC Quimica SA. passando a Tratospital a ser gerida em conjunto por estas duas empresas.
A Tratospital nos últimos anos foi uma pequena empresa, com 32 funcionários, que gerou resultados positivos depois de impostos. Em 2009 ultrapassou os 200.000 €.
A Tratospital tem uma quota de mercado de cerca de 15% dos resíduos hospitalares nacionais e assegura ainda o tratamento de mais 15% de RH provenientes de um dos seus concorrentes, o SUCH.
O mercado nacional tem 3 grandes empresas de Tratamento de Resíduos Hospitalares: A Ambimed, o SUCH (empresa de capitais públicos) e a Tratospital.
A bomba caiu há alguns dias.
O Grupo EGEO e a SAPEC decidiram vender a Tratospital por (diz-se…) 1,7 milhões de euros ao Grupo Ambimed.
Consultada a Alta Autoridade da Concorrencia não viu inconveniente que o grupo Ambimed passasse a deter, com esta aquisição, cerca de 85% da capacidade de tratamento de resíduos hospitalares instalada em Portugal ou que ficasse com uma quota de mercado muito superior a 50%.
O bizarro é que todos temos consciência que a esmagadora maioria das facturas do tratamento de resíduos hospitalares é paga pelo SNS, ou seja, dinheiro público.
O Grupo Ambimed já decidiu despoletar o despedimento colectivo dos 32 funcionários da Tratospital.
Uma empresa rentável, manda para o desemprego os seus 32 funcionários!
Qual é a moral desta história?
Aparentemente nada de ilegal aconteceu. Pode-se discutir a decisão da AAC, mas apenas isso.
Mas afinal o que é a responsabilidade social e a sustentabilidade tão em voga nos tempos de hoje?
Como é possível que uma situação como a que acabei de descrever, possa estar a acontecer?
No Grupo EGEO e na SAPEC certamente as garrafas de champanhe já foram abertas para comemorar mais de 1 milhão de euros de mais-valias neste negócio. Deverá ter sobrado alguma tacinha para alguns dos actuais Administradores da Tratolixo.
O Grupo Ambimed vê, finalmente ao fim de tantos anos, a confirmação da sua posição hegemónica no mercado do tratamento de resíduos hospitalares em Portugal e vai passar a ditar o preço a praticar.
Os funcionários da Tratospital que tornaram possível trazer esta empresa de resultados negativos de 400.000 € para os lucros anuais de 200.000 € recebem uma carta. Uma carta de despedimento colectivo.
A Susete, que foi mãe há pouco tempo, assim como a Helena, a Sónia que acabou de casar, o Carlos e o José, na casa dos cinquenta e que há mais de dez anos eram motoristas de recolha de Resíduos Hospitalares, receberam uma carta de despedimento.
Esta é a Responsabilidade Social que alguns dos nossos gestores pôem na sua acção do dia-a-dia.
Alguns deles estarão no próximo domingo a bater com a mão no peito em uma qualquer igreja para a seguir juntar a sua família para um opíparo almoço, pago com o dinheiro gerado por mais um negócio estrondoso.
No mesmo domingo, os 32 funcionários da Tratospital estarão a tentar perceber de onde veio a mão que lhes pregou tal bofetada…
Caro Eng.º, Acrescentaria apenas o seguinte: Perante o que refere haverá uma economia de mercado em Portugal? Haverá competição baseada na qualidade ou os "connections" e as "negociatas" - perdoe-me o populismo - são o mote da nossa economia.
ResponderEliminarNão deixe de escrever e de trabalhar.
Responsabilidade Social? Com gestores egocentricos e pouco visionários? Quem tem valor mas não faz parte da equipa de golf é esmagado, e os valores que contam nestas transações não são nem a sustentabilidade,nem a economia nacional, nem o PEC....e nós, digo a maioria, a pagar...como dormem?...que Ex emplos são para os filhos?
ResponderEliminarAh, mas isto é possível porque anda-se a privatizar serviços públicos. Não sei qual é a teoria para que serviços como a recolha do lixo (ou água, ou luz ou outro semelhante) sejam privatizados. Significa que se eu não quiser que a recolha do lixo seja feito por esta empresa e sim pela outra (tal como eu faço com a internet, telefone, banco, etc, etc) o posso fazer livremente?! Ou a Câmara faz contrato com uma empresa privada para a recolha do lixo e ao fim de 5 ou 10 anos de contratos opta-se por outra e a anterior fica com uma frota de carros de recolha de lixo parada e uma quantidade de recursos humanos no desemprego.
ResponderEliminarEste tipo de privatização só é boa para os pseudo-gestores e para os improváveis donos dessas pseudo-empresas. Mas ainda bem que temos o José Sócrates e o PS que nos defendem desses lobos maus (leia-se politicas de direita)... ou talvez não!
Esta situação aqui relatada só foi possível graças à permissividade da Câmara neste processo ao permitir que um serviço básico e essencial fosse negociado. Quem assumiu esse negócio que tenha a coragem de agora arcar com as responsabilidades dos despedimentos.
As suas oportuníssimas palavras deveriam fazer corar de vergonha todos os que tomaram parte nas decisões que levaram a esta situação. Mas tenho a certeza que isso nãoi irá acontecer porque já não há pudor. E, pior ainda, esses mesmo já nem dão conta que o não têm!
ResponderEliminarUm forte abraço e naão desista!
Álvaro Costa
Acredito que água mole em pedra dura... Quem com ferro mata com ferro morre. Talvez entre os detritos vá uma seringa envenenada...
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