AFINAL O QUE SE PASSA?
Afinal o que se passa?
70% de abstenção e mais 7% de votos brancos e nulos são uma
demonstração clara que a democracia em Portugal está doente e precisa
urgentemente de um abanão.
Como chegámos até aqui?
Partilho o meu ponto de vista.
Se a democracia é uma forma de exercício de poder
representativo, ou seja, a totalidade de pessoas de uma comunidade delega o seu
poder num grupo restrito de pessoas por um determinado tempo, em Portugal é um
processo que entrou em falência.
A explicação do fenómeno é, no meu ponto de vista, uma
coisa parecida com a discussão do que é que surgiu primeiro, o ovo ou o pinto.
A democracia em Portugal transformou-se numa partidocracia,
em que são os dirigentes partidários que exercem o poder tendo-se desligado da
vontade do povo que representam. Se os eleitores não se revêm nessa forma de
exercício de poder desinteressam-se do processo.
Também é verdade que hoje estamos genericamente afastados
do hábito de pensar e de lutar pelo que achamos ser nosso direito.
É mais fácil ir ao Marquês festejar a vitória de uma equipa
de futebol do que ir a uma Assembleia Municipal participar na discussão de um
assunto que impacta na comunidade em que estamos inseridos.
Porque não queremos pensar, preferimos adotar a primeira
balela que nos contam sem sequer um pequeno esforço de escrutínio da sua
bondade, exequibilidade e interesse real para a comunidade.
É por isso que vemos uns quantos a participar em Orçamentos
Participativos que vão decidir qual a corporação de bombeiros que vai receber
mais uma ambulância ou qual a escola ou pavilhão desportivo que vai finalmente
ver o telhado de amianto demolido.
Mas a esmagadora maioria está farta da falsa representação
dos eleitores pelos partidos políticos, pela legislação criada que protege o
corrupto, pela falta de medidas que promova a transparência e devolva
legitimidade à democracia.
Mas como poderão ser os representantes dos Partidos, que
ocupam os governos locais, regionais e nacional ser o garante dessa nova
revolução tranquila?
Sem uma profunda limpeza nos aparelhos partidários penso
que será difícil. Resta-nos votar em novos partidos que possam personificar
esta mudança.
Deixo-vos um singelo contributo com algumas medias que
poderiam melhorar a nossa democracia.
1-
Se
o ato de participação cívica é em tese a participação nas eleições, então tal
fato deve passar a ser obrigatório e deverão existir sanções para os que não
participem, nomeadamente:
a.
Não
poder ser eleitos para qualquer cargo de eleição ou nomeação política (governo,
vereação, administração de empresas públicas ou municipais, etc);
b.
Não
se poder candidatar a qualquer lugar na função pública;
c.
Ser
causa para justo despedimento da função pública ou de empresas públicas ou
municipais;
d.
Perder
o direito a todos os abonos e apoios pagos pelo estado (escolas, serviço
nacional de saúde, fundo de desemprego, pensões, estágios)
2-
A
luta contra a corrupção tem também que ser melhorada. Um político acusado de
ato de corrupção ou de prevaricação económica, tem que obrigatoriamente perder
o direito de poder voltar a desempenhar qualquer cargo de origem política, seja
por eleição seja por nomeação.
3-
Tem
que ser mudado o ónus da prova do enriquecimento ilícito. Não pode ser a
justiça que tem que provar a ilicitude de um enriquecimento, tem que ser o
acusado a provar a licitude do dinheiro ou bens na sua posse.
4-
Nas
eleições os votos brancos e nulos têm que passar a ter representatividade e
transformados em lugares não preenchidos, sejam nas assembleias sejam nos
executivos municipais.
5-
A participação
em cargos políticos tem que ser disciplinada.
a.
No
caso de desempenho de cargos executivos, a manter-se o limite de mandatos em
executivos municipais de 3, este número tem que ser considerado de forma
absoluta. Não faz sentido que um vereador possa fazer um número ilimitado de
mandatos e o presidente não, ou que um presidente de câmara se possa candidatar
em outra Câmara por mais 3 mandatos.
b.
No
caso dos deputados também há situações que devem ser revistas nomeadamente as
pensões vitalícias que não fazem qualquer sentido.
c.
A
eleição uninominal dos deputados poderia carrear para o processo uma maior
responsabilidade do político e uma maior ligação com o eleitor, que hoje é
manifestamente inexistente.
Com estas e outras medidas talvez possamos regenerar a
política, os políticos e a participação cívica de todos.
A alternativa é deixar que alguém mande, nos dirija e
decida o que é melhor para nós sem a nossa participação.
Esta última opção não faz, de todo, o meu género!
(Publicado no Cascais24 em 30/05/2019)
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