A MOBILIDADE, PRIORIDADE OU MODA?
A mobilidade tem estado no centro das
atenções especialmente na zona da grande Lisboa onde o início de uma revolução
foi efetuada ao mexer no preço e na tipologia dos passes sociais de transporte.
A área metropolitana de Lisboa é um caos
em termos de mobilidade.
Movimentos pendulares diários dos
concelhos periféricos para Lisboa envolvendo mais de 2 milhões de pessoas,
feito em grande medida de carro, tem custos brutais para a economia, a
qualidade de vida dos munícipes e a qualidade ambiental.
É verdade que as opções tomadas nos idos
anos 90 de desinvestir no caminho de ferro e investir na rodovia, ao ponto de
hoje sermos apontados como um dos países europeus com melhor sistema
rodoviário, foi uma péssima opção que hoje todos pagamos. Pagamos nas filas
intermináveis de carros para e de Lisboa, pagamos a dependência do carro e do
elevado custo dos combustíveis, pagamos com um contributo negativo para a
qualidade ambiental nas áreas metropolitanas com a emissão de gases com efeito
de estufa.
Este desinvestimento na ferrovia retirou
milhares de utentes dos comboios, retirou dezenas de comboios aumentando os
tempos de viagem, nomeadamente na linha de Cascais onde esta realidade é
gritante, ou o exemplo da linha do Oeste.
Mas o problema não se confinou à
tipologia do transporte. As concessionárias dos transportes coletivos
rodoviários são, em geral, pouco preocupadas com o serviço público limitando-se
a gerir o negócio do transporte como se de mercadorias se tratasse.
O exemplo da Scotturb é um exemplo
paradigmático do que acabo de afirmar.
Cascais e Sintra têm um concessionário,
a Scotturb, que se está nas tintas para a qualidade de serviço que presta, e
como ninguém manda, entendem que podem fazer o que quiserem e como quiserem. Se
um utente fica à espera duas horas de um transporte, assistindo à passagem de
vários autocarros repletos que não param, este parece ser um problema exclusivo
do utente…
Mas não devia ser!
Mas finalmente tudo isto está a mudar.
Abertura de novos concursos para a concessão de transportes coletivos, o estudo
de novos meios e processos, como assistimos em Sintra e em Cascais, podem
alterar significativamente a mobilidade dos cidadãos…ou não!
Porquê a dúvida?
Mantendo-me a olhar especialmente para
Cascais (onde nasci e onde sempre desenvolvi a minha cidadania) e Sintra (onde
trabalho) vejo dois pesos e muitas medidas que importa escalpelizar.
Sintra está mais atrasada em termos de
implementação de novidades, mas deu já alguns sinais que são prometedores.
Percebeu que o problema estacionamento gratuito junto às estações de caminho de
ferro é preponderante para a otimização do recurso a este transporte.
O munícipe, depois de ter sido
“obrigado” a utilizar o carro, vai querer sempre comparar o custo e o benefício
de cada uma das opções disponíveis…
Não
é difícil perceber que se a oferta de transportes coletivos aumentar e se o
preço diminuir, é bem possível que se assista a um regresso ao transporte
público!
Fala-se em criar sistemas de transporte
adaptados às necessidades das pessoas e à dimensão das localidades. No fundo,
parece que a mobilidade em Sintra está a ser pensada e planeada colocando o
utente e as suas necessidades no centro da questão.
Já Cascais é um caso bem diferente.
Sem estudos que identificassem as
necessidades reais, a Câmara avançou à pressa, imediatamente antes das últimas
eleições autárquicas, para a criação do Mobicascais, um serviço de transporte,
a funcionar com minibus que continuam a circular completamente às moscas.
Ora tal pode ter uma de duas
justificações: ou a oferta tem pouco a haver com a procura de transporte, ou o
preço implementado não é suficientemente atrativo para fazer mudar as opções
dos munícipes.
Com uma mega operação de marketing
associada, há muito gato vendido por lebre.
Um exemplo caricato é a oferta de
estacionamento junto às estações para quem adira ao Mobicascais. Infelizmente
nem em letras pequeninas aparece que, no caso da estação de Cascais, são 8 ou
nove lugares disponíveis para este efeito. Desconfio que há 8 munícipes de
Cascais que dormem dentro do carro no parque de estacionamento para não
perderem o lugar…
Porque se aproximam novas eleições, e
porque avançou a revolução dos preços dos passes sociais metropolitanos,
Cascais e o seu Presidente já vieram anunciar que o Mobicascais vai passar a
ser gratuito… Se o resultado final for semelhante ao estacionamento grátis em
Cascais…
Se olharmos para as grandes e médias
cidades europeias, todas têm sistemas de transporte coletivos bem organizados e
com capacidade para responder às necessidades dos cidadãos que ali trabalham.
Lisboa, e a sua área metropolitana é paupérrima nesta matéria.
Fica-nos uma dúvida – este passo agora
dado de reajustar e tornar atrativo o preço dos transportes não pode estar
dissociado de uma efetiva melhoria dos transportes disponibilizados, em número
e em conforto, e o pior que pode acontecer é aumentar-se a procura e a oferta
não acompanhar esse aumento.
O exemplo de Cascais, pretende alardear
um vanguardismo que é bom para fazer notícias e participações em seminários,
mas que continua desajustado da vontade do cidadão e, portanto, pouco
utilizado.
Sobre Sintra, o futuro próximo dirá se
são confirmadas as boas expectativas que parecem existir.
Estejamos atentos aos próximos
desenvolvimentos.
Rui Frade Ribeiro
(publicado no SintraNotícias em 16/04/2019)
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