GERIR SERVIÇO PUBLICO NÃO É ISTO!

Lixo em Carcavelos

 As queixas vão aparecendo, algumas com forte veemência dos munícipes, acerca da recolha de resíduos, da limpeza urbana e da falta de qualidade do serviço prestado pelas empresas ou serviços municipais na zona da grande Lisboa.

Sintra é um foco, especialmente na zona mais rural, que já mereceu até reportagem televisiva.


 https://www.youtube.com/watch?v=Zst5EvqiNLc


Oeiras é, de há uns anos a esta parte, um exemplo de como é possível estragar um serviço municipal que já foi um exemplo nacional nos anos noventa!
Cascais, que criou a sua empresa Cascais Ambiente em finais de 2005, e a que tive a honra de estar ligado à sua criação e organização dos serviços presidindo ao seu conselho de administração inicial, foi um exemplo de excelência durante uma década, mas começa agora a apresentar sinais de desnorte e de falta de sintonia com os objetivos essenciais que uma empresa deste tipo deve atingir: servir bem os seus munícipes na busca de uma cada vez maior eficiência.
Qual é afinal o problema comum a estas empresas e serviços municipais?
Estado habitual da envolvente de ecopontos em Oeiras
A um dado momento parece haver aqui uma inversão de valores desprovidos completamente de sentido. De repente parece que deixa de ser a empresa a ter que servir de forma adequada os munícipes para passarem a ser os munícipes que têm que servir as empresas ou os serviços de limpeza urbana.
Cai no esquecimento quem paga a festa – os munícipes – e a forma estúpida e indecorosa como o fazem – em função do consumo de água e não em função da quantidade e tipo de resíduos produzidos!
Não há coisa mais irritante do que ver um responsável de uma destas empresas ou serviços a invocar como razão que são as pessoas que colocam indevidamente os resíduos ou que não combinam a sua recolha com os serviços! Como se a tarefa de disciplinar as boas práticas ou a sensibilização não fossem sua tarefa!
Mas a quem deve competir planear as tarefas, dimensionar os equipamentos e os recursos humanos para a prestação do serviço de forma adequada e pago pelos munícipes? Não serão estas tarefas da exclusiva competência da gestão destas empresas e serviços?
E a limpeza urbana? As “florestas” nos passeios? As sargetas por limpar?
Estado das sarjetas na Quinta do Marquês - Oeiras
Não me venham com histórias porque é possível fazer muito melhor! Aliás muito melhor por sensivelmente o mesmo custo!
Mas o exemplo tem que vir de cima.
A Administração destas empresas tem que estar envolvida. As pessoas das empresas têm que ser valorizadas para que sintam como seu o objetivo da excelência!
Isto pode parecer autoelogio, mas tenho que invocar o que foi a criação da Cascais Ambiente e a forma como do nada se criou uma empresa que rapidamente passou a ser um exemplo nacional.
A SUMA prestava um serviço caro e de qualidade sofrível. A Câmara de Cascais assegurava alguns serviços de forma direta com cerca de 140 funcionários, habituados a pouca pressão na quantidade e na qualidade do trabalho.
Com a anulação do contrato com a SUMA, empresa que se deu ao luxo de retirar papeleiras e contentores 15 dias antes do términus do contrato, foi preciso em tempo record adquirir equipamentos, viaturas, contentores, ecopontos, e recrutar funcionários, para juntar aos que vieram transferidos dos quadros da CMC.
Tínhamos tudo para que pudesse correr mal mas entre vontade, muito trabalho, motivação das pessoas e uma dose de sorte, a Cascais Ambiente iniciou a operação sem sobressaltos.
Ao fim de um ano de atividade, a Cascais Ambiente desenvolvia um trabalho de excelência, como Cascais nunca tinha conhecido, e pasmem-se, com uma poupança para os cofres da Câmara de 5 milhões de euros. Melhor serviço por muito menos dinheiro, o que se podia pedir mais?
Mas podia. E devia.
Não há nada pior do que tentar viver à custa dos louros do passado.
Uma empresa, seja qual for, deve estar sempre motivada para desenvolver ainda melhor as suas tarefas, e assegurar o controle adequado dos custos da sua atividade.
Penso que no caso de Cascais, o sucesso deslumbrou e perdeu-se o foco no objetivo principal.
Hoje, a importância já não é a da excelência do serviço prestado, do reconhecimento dos munícipes por se sentirem bem servidos em matéria de limpeza urbana, mas os prémios, os dias da limpeza, os concursos, o que der para aparecer na televisão!
Já não é o munícipe e o seu bem estar que interessa mas quantas vezes é citado o administrador na comunicação social ou é chamado à televisão!
A Cascais Ambiente atingiu a excelência com uma férrea gestão de recursos humanos quando começou atividade.
Com cerca de 420 funcionários em 2006 foi possível torná-la num motivo de orgulho e num exemplo nacional.
Quantos funcionários tem hoje?
Segundo o Relatório e Contas da Cascais Ambiente de 2017 são 686!
Quando se utilizam as empresas municipais para alimentar o séquito…
Passeios e valetas cheias de lixo e vegetação
(Abóboda - Cascais)
Com mais 63% do pessoal inicial seria de esperar que vivêssemos no céu! Só que todo este novo pessoal não me parece que esteja focado no serviço público. Muitos destes novos funcionários têm tarefas mais vocacionadas para a promoção de autarcas e de Partidos…
Hoje, a Cascais Ambiente parece dar mais importância aos concursos internacionais, aos eventos, colocando aí uma boa parte do esforço que falta depois para garantir que não se amontoam resíduos na envolvente dos contentores de RSU ou que os passeios estão limpos e não transformados em “montras de espécies arbóreas”!
Gerir serviço público não é isto!
Sintra sempre esteve à procura de conseguir ter um serviço de limpeza urbana aceitável, mas não tem conseguido. A extinção da HPEM e a sua incorporação nos SMAS de Sintra poderia ter sido uma janela de oportunidade, mas os problemas de planeamento e de fiscalização da atividade continuam a deixar muito a desejar e a povoar até reportagens televisivas.
Oeiras é uma pena. Transformar aquilo que já foi um dos melhores serviços de limpeza urbana, talvez o mais vanguardista nos idos anos 90, naquilo que hoje a população de Oeiras tem, é inconcebível. Lixo junto aos contentores, zonas residenciais com o lixo e as ervas nos passeios a amontoar-se por vezes por mais de um mês, são a demonstração que a gestão autárquica não se interessa pela qualidade de vida dos seus munícipes. Oeiras hoje, poderemos dizer sem exagero, que oferece o serviço de limpeza urbana da zona da grande Lisboa com pior qualidade!
Cascais também começa a dar preocupantes sinais de desleixo. A deficiente gestão da recolha, a inexistente sensibilização da população e o desleixo visível no interior do concelho, especialmente na Freguesia de S. Domingos de Rana (freguesia que Carreiras e a sua coligação continuam a não ganhar…) começa a ser um indicador negativo do que nos espera no futuro.
E ao “Zé Munícipe” resta uma de duas vias: conformar-se e deixar andar, participando às vezes em um dos eventos promovidos para a foto dos responsáveis autárquicos, ou indignar-se, exigir qualidade de serviço prestado, na exata medida do que paga mensalmente à sua autarquia!

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