NOVA CASCAIS – O BETÃO, SEMPRE O BETÃO!


(infografia inserida no Jornal Expresso – 7/01/2018)
No início de janeiro Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz quiseram utilizar o Jornal Expresso para apresentar aquilo que apelidaram, não sei se eles se o jornalista, de Nova Cascais.
A tónica de toda a notícia carrega um exagerado entusiasmo com a pretensa revolução que a autarquia de Cascais planeou realizar.
Vale a pena olhar com atenção e perceber os pormenores, acima de tudo quem ganha e quem perde com tudo isto.
Cascais ganhou uma notícia num jornal de referência, pouco mais do que isso, em minha opinião.
Olhemos primeiro para a infografia. O que tem de errado?
Só metade do concelho tem direito a “ser nova”!
As freguesias de Alcabideche e de S. Domingos de Rana vão continuar a fazer parte da velha Cascais. A parte desprezada, onde pouco ou nada acontece, para onde o dinheiro e a atenção da Câmara de Cascais vai a conta-gotas!
Dos investimentos anunciados só um está a norte da autoestrada e esse existe desde 1964 – O aeroporto de Tires!
Para quem queira pensar em Cascais como um todo, esta tendência, que não é de agora, não tem uma explicação fácil.
Por muito que me custe, acabo por ter que dar toda a razão ao discurso que defende que existem duas Cascais – A dos ricos, do turismo, do casino, das praias, e a dos pobres, dos bairros sociais, dos bairros clandestinos, do mau ordenamento de território e da péssima oferta de condições de mobilidade.
O interior de Cascais, a norte da autoestrada, merecia outra atenção, merecia um plano de desenvolvimento no interior do concelho, onde ainda há terrenos disponíveis para pensar grande, para criar polos empresariais ligados a serviços e a novas tecnologias, onde fosse possível criar novos empregos e permitisse fixar em Cascais uma boa parte dos recursos humanos que habitando em Cascais continuam todos os dias a ter que perder 2 ou 3 horas nas deslocações para Lisboa ou para Oeiras!
Mas para que um plano destes tivesse a mínima hipótese de sucesso obrigava a que a Câmara, Carlos Carreiras e a sua equipa, se preocupassem em criar acessibilidades que permitissem fluxos horizontais (ligação a Oeiras e a Lisboa) e fluxos verticais (ligações a Sintra).
Obviamente que nenhuma empresa se instala num sítio onde os acessos sejam obsoletos e sem condições.
É por isso que no eixo Alcabideche / Manique / Trajouce a única empresa com dimensão ali instalada é o Complexo da CMC em Alcoitão e no eixo vertical S. Domingos de Rana / Abóboda / Trajouce a esmagadora maioria das médias e pequenas empresas ali existentes procuraram novos locais com melhor acessibilidade.
Já experimentaram fazer a estrada S. Domingos de Rana Trajouce entre as 7h e as 21h? Se ainda não, experimentem e vão perceber do que falo!
A conclusão da longitudinal norte, a variante de Trajouce, são dois exemplos de investimentos viários estruturantes que continuam a não sair do papel.
Para os munícipes de Alcabideche e de S. Domingos de Rana sobram umas migalhas, que serão mais visíveis perto das próximas eleições autárquicas!
Mas e o plano que vai transformar a parte a sul da autoestrada do concelho de Cascais, em que medida vai alterar, beneficiar os munícipes de Cascais, Estoril, Parede e Carcavelos?
Não sei se os investidores dos empreendimentos ou os administradores das empresas que irão construir todos estes edifícios são munícipes destas freguesias mas tenho uma triste notícia para vos dar – Tirando os promotores e investidores e os construtores não vejo mais ninguém que saia beneficiado com todo este betão anunciado! Para eles o benefício parece-me bem avultado mas para o munícipe, o pagador de impostos, nada!
Os investimentos em Carcavelos / Parede – School of Business, cerca de 1000 fogos na Quinta dos Ingleses, centro comercial, hotéis, vão descaraterizar aquela zona, vão promover uma pressão sobre a estrada Marginal, vão alterar as condições e a qualidade da praia de Carcavelos, vão transformar a entrada do concelho de Cascais numa Brandoa à beira mar!
E há um balanço que ainda não foi feito mas merecia ser quanto antes. O que vai acontecer ao comércio tradicional de Carcavelos?
E depois a entrada em Cascais.
Betão na antiga discoteca Bauhaus, betão no Jumbo, betão na Marina, betão no Hotel Nau, betão na Praça de Touros, com tanto betão, qual o real benefício para os munícipes de Cascais, os pagadores de impostos?
O caso do projeto do Jumbo merece até um pouco de atenção adicional.
O projeto inicial do Cascais Vila previa o cruzamento com a avenida de Sintra desnivelado. Por obra e graça de José Luís Judas acabou por ficar de nível e contribuir até hoje para a meia hora necessária para entrar na Vila de Cascais.
Agora, este projeto do Jumbo, transforma aquela zona em mais um número assinalável de apartamentos, que irão beneficiar alguém, mas para o cruzamento não vai sobrar nada, fica tudo igual. A única diferença é que os automobilistas na meia hora de espera para entrar em Cascais passam a ter “uma paisagem verde”…
Em Cascais, na Câmara Municipal, o PSD caiu em 1994 por causa do betão, José Luís Judas caiu em 2001 por causa do betão.
No último caso, Carlos Carreiras, então entusiasta promotor de uma Associação Cívica que combateu sem quartel José Luís Judas por causa do betão, vem agora anunciar com pompa e circunstância uma nova Cascais com uma invasão de betão? A isto podemos chamar o quê? “Coerência”?
Mas tudo isto é sintoma da apatia da maioria dos munícipes de Cascais. Olham para estas notícias e encolhem os ombros.
Quando despertarem, poderá ser tarde demais!

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