ESTACIONAMENTO: É UM DIREITO OU UM NEGÓCIO?
As Câmaras continuam a não entender a forma de abordar
esta problemática.
Nas grandes urbes, o crescimento económico acabou por
resultar na existência de vários automóveis por fogo habitado e todos
reconhecemos que tradicionalmente as Câmaras tardaram em perceber que os rácios
para aprovação de lugar de estacionamento por fogo pecava por defeito, ou seja,
ao longo dos tempos foram sendo aprovados fogos de habitação com estacionamento
insuficiente.
A ideia de tarifar o estacionamento nos centros urbanos
para apoiar a renovação de disponibilidade de lugares de estacionamento para o
comércio e serviços, cedo deu lugar à proliferação de estacionamento tarifado
por todo o lado.
Tudo isto foi acontecendo sem que se implementasse uma política
justa de estacionamento capaz de, por um lado, respeitar os direitos dos contribuintes,
já tão sobrecarregados de impostos diretos e indiretos relacionados com o
automóvel, e pelo outro, ser eficaz no apoio ao desenvolvimento do comércio, tornando
fácil o acesso aos centros urbanos.
Cascais, Oeiras ou Sintra não são diferentes: há muito
tempo que transformaram o estacionamento num negócio camarário e se esqueceram
de que a obrigação primeira é gerir o território salvaguardando os interesses
dos eleitores e contribuintes.
Assistimos hoje à
invasão de parquímetros, sujeitando os automobilistas à ditadura da moeda, da
multa e do bloqueador!
E o que mais dói é a cegueira que as Câmaras um pouco por
todo o país colocam na gestão desta matéria não deixando alternativa ao assalto
ao porta-moedas.
Nalgumas zonas os parquímetros servem para enxotar os
munícipes dos centros das localidades pejados de parquímetros e parques de
estacionamento pago a preço de ouro para os empurrar para as grandes
superfícies dotadas de parques de estacionamento gratuitos.
E assim se vai votando ao abandono os centros das
localidades e das vilas porque, sem compradores, não há negócio que perdure e
sítios que já foram cheios de vida como Cascais, Carcavelos ou Parede estão
hoje votados ao quase abandono.
O estacionamento é um direito do contribuinte.
No meu entendimento é uma obrigação clara da Câmara
Municipal dotar o território com a oferta suficiente de estacionamento para os
munícipes e para os visitantes do concelho.
A gestão dessa oferta tem que ser feita tendo em
consideração todas as variáveis da complexa equação.
Claro que a maneira mais fácil é colocar parquímetros mas
será a mais adequada para a gestão urbana no seu todo?
Cascais acaba de aprovar alterações ao regulamento do
estacionamento em Cascais nomeadamente no Centro Histórico. A preocupação de
contrariar o estacionamento caótico que pode impedir o acesso das viaturas de
emergência em situação de acidente ou catástrofe é meritória mas aprovar um
conjunto de restrições sem salvaguardar os interesses dos munícipes proprietários
de fogos nessas zonas e que pagam como os outros os seus impostos é muito mas
muito redutor!
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Zona sul da Parede |
E o que dizer da proliferação de estacionamento pago em
zonas com características maioritariamente residenciais como na zona de S. João
do Estoril?
Ou da próxima tarifação da zona a sul da linha de caminho-de-ferro
na Parede?

Está tudo tolo?
A Câmara tem ferramentas ao seu dispor para resolver com
eficácia este problema. Em primeiro
lugar deve, em sede de aprovação de projetos urbanísticos acautelar as
necessidades de estacionamento.
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Nova Clínica com um lugar de estacionamento (Rua Teófilo Braga) |
Não pode aprovar, como a CMC se prepara para fazer na
zona sul da Parede (Rua Teófilo Braga, nº 2), que uma Clínica possa funcionar
numa antiga moradia, situada numa praceta com apenas um lugar de
estacionamento. Se o médico e os restantes funcionários se deslocarem de
bicicleta e só atenderem um doente de cada vez é capaz de funcionar. De outra
forma…
Por outro lado devia
investir em dotar as zonas centrais das localidades com estacionamento adequado
gratuito. Se for
preciso adquirir terrenos para o efeito será certamente dinheiro mais bem gasto
que em Festas e Foguetes…
Por último devia, como chegou a estar pensado no
início dos anos noventa, enfrentar o estacionamento de Cascais de forma mais
inteligente e mais amiga do ambiente. Dotar
as entradas de Cascais com oferta gratuita de estacionamento e criar um
adequado e eficaz meio de transporte para levar as pessoas ao centro da Vila.
Libertar Cascais das filas intermináveis de viaturas e acautelar a qualidade do
ar no centro de Cascais.
Mas não.
Mais e mais parquímetros, fiscais de caneta, livro de
multas e bloqueador em riste para (mal)tratar o munícipe.
Gerir assim é fácil.
Ser gerido assim não é.
Enquanto a passividade e a complacência durar será mais
ou menos pacífico, mas tenho a firme convicção que a paciência vai faltar!
E aí…
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