A DEMOCRACIA CAIU EM DESUSO?

Hoje não resisto a uma pequena reflexão sobre o Partido em que milito em Cascais desde 1983.
Em 29 anos de militância no PSD já passei por diversas experiências, já desempenhei cargos, fui Vereador, fui Presidente da Comissão Política da JSD de Cascais e da Concelhia do PSD de Cascais,  fui Administrador de empresas Intermunicipais e de uma empresa Municipal, e já fui apenas militante de base, que é a minha actual condição.
Durante a minha passagem por estas coisas da política, habituei-me a um determinado estilo do PSD Cascais, a tónica na democracia interna, no respeito pelas opiniões diferentes, no respeito pela vontade da maioria. Existiram grandes discussões sobre temas políticos, por vezes acaloradas, mas a discussão de ideias diferentes não fazia esfriar o respeito que as pessoas todas sem excepção exibiam umas pelas outras.
Também não havia espaço para grandes veleidades de endeusamento dos ocasionais líderes partidários concelhios. O líder valia tanto como cada um dos outros militantes. 
Um terceiro aspecto que em minha opinião é relevante é o espírito de missão que existia, o sentido da primazia pela defesa do interesse público antes de qualquer outro interesse.
Estou a falar de homens e mulheres com quem fui convivendo e que, estou certo, se acaso tiverem a oportunidade de ler estas linhas, logo reconhecerão memórias de um passado mais ou menos distante da vida partidária do PSD em Cascais.
Tudo isto para afirmar que já não reconheço o Partido em que milito.
O PSD de Cascais mudou radicalmente e hoje não resiste qualquer semelhança com a prática e militância de outros tempos.
Para fazer valer a justiça nesta apreciação, devo dizer que a responsabilidade de isto estar a acontecer não é em exclusivo da actual direcção do PSD em Cascais.
De há uns anos a esta parte as regras do Partido a nível nacional têm vindo a ser alteradas, retirando muito do valor interclassista que tinha, as refregas ideológicas que o tornavam num Partido vivo e actuante.
Hoje uma eleição para a Comissão Política não exige uma sessão em que se apresentem os argumentos, as linhas de actuação que cada uma das listas se propõe desenvolver caso vença a eleição.  Hoje o acto resume-se a uma votação. Ainda é em boletim de voto mas corremos o risco que se transforme numa votação telefónica, tipo Concurso Televisivo…
No passado havia uma tradição de garantir à Comissão Política Concelhia o papel de dinamização e fiscalização da actividade partidária no concelho nomeadamente dos representantes do Partido nos vários lugares autárquicos.
Hoje assiste-se à menorização da Comissão Política em detrimento do Presidente de Câmara e o Dr. Carlos Carreiras  apresta-se a ser fiscalizador e fiscalizado com a intenção anunciada de ser eleito Presidente da Comissão Política de Cascais do PSD e em simultâneo candidato a Presidente de Câmara de Cascais.
No passado eram muito poucos os militantes do PSD que eram funcionários da Câmara Municipal ou das Juntas de Freguesia. Os militantes eram os autarcas, sujeitos à vontade eleitoral no final de cada mandato. Havia um certo pudor, o não bastar ser sério mas a exigência de também o parecer!
Nos últimos anos assistimos a uma autêntica invasão de militantes do PSD na Câmara e nas Empresas e Agências Municipais que não é bom augúrio de boas práticas e de transparência do exercício do poder.  Atente-se que o que acabo de afirmar não é a ideia de que os militantes do PSD são menos transparentes, menos sérios ou menos competentes mas, convenhamos, hoje o PSD de Cascais parece uma agência de empregos e isso não é de todo razoável!
E assim passa-se a perceber o porquê do abandono das práticas democráticas no Partido, de fomentar a participação de todos, de discutir as ideias e os projectos que se pretendem implementar na sociedade cascalense. O reconhecimento da hierarquia poderia ser posto em causa ou, ao invés, os empregos poderiam ser colocados em perigo com opiniões menos favoráveis aos empregadores…
Confesso-me assustado com aquilo em que se transformou o PSD em Cascais e a sua total mistura com o poder autárquico. Deixou de haver uma linha distinta a separar o Poder Político e o Poder Autárquico e isso é a negação da Democracia na sua essência!
Esta acusação que tanta força teve no passado contra as Câmaras do PCP no Alentejo e na margem sul ou mesmo as críticas ferozes do PSD Cascais contra José Luís Judas e a ocupação da CMC feita pelo Partido Socialista, afinal o PSD faz hoje exactamente o mesmo.
Faz o que eu digo mas não faças o que eu faço!
Sei que não estou só neste sentimento.
Temo que deste exercício musculado de poder venha a resultar uma nova onda de movimentos cívicos preparados para combater este poder viciado dos Partidos.
Mas qual a diferença num movimento cívico gerado sabe-se lá por que interesses e esta forma de exercer o poder dos Partidos?
Tenho saudades de Democracia!

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