COMO UMA BOA IDEIA PODE DAR TÃO MAU RESULTADO!
Volto ao Orçamento Participativo em Cascais para tentar
discutir o que poderia ser e o que afinal é.
É triste, que um cidadão mais ou menos consciente, como
eu me considero (perdoem-me a eventual soberba desta consideração!...), seja
obrigado a assistir ao triste espetáculo em que isto se transforma e à
conivência de um assinalável número de cidadãos.
Sinceramente gostaria de ver projetos que surgissem de necessidades
sentidas por uma comunidade e que se organizassem para atingir um objetivo
através do OP. Seriam interessantes projetos que olhassem para a inexistência
de passeios em várias localidades (Abóboda, Trajouce, por exemplo), ou que
olhassem para a reorganização viária e a melhoria da mobilidade (o cruzamento
do Arneiro onde de manhã e à tarde perdemos meia hora das nossas vidas ou o
cruzamento da estrada S. Domingos de Rana - Mem Martins com a estrada de
Manique no centro de Trajouce ou ainda o cruzamento na Igreja de S. Domingos de
Rana que seria tão fácil e barato resolver) ou ainda a criação de
estacionamento no centro da Parede, de Alcabideche ou de Cascais.
Mais uma vez, salvo um projeto de passeios numa rua na
Freguesia de S. Domingos de Rana e um parque infantil e um jardim em Abóboda os
restantes projetos são outra vez investimentos propostos em escolas,
corporações de bombeiros e coletividades.
Não se entende.
Não se entende que uma ideia bonita de reativar a
participação dos cidadãos no município onde vivem se transforme numa competição
entre várias corporações de bombeiros, várias escolas e várias coletividades!
A Câmara Municipal de Cascais, que deveria ter uma ideia clara
sobre a valia das pretensões destas coletividades e associações, chuta para uma
espécie de concurso para ver quem tem mais votos.
Se a cozinha da escola A tiver mais votos do que a
remoção do amianto da escola B, azar para os alunos e os familiares da escola B
que vão respirar umas fibras cancerígenas pelo menos mais um ano!

O Orçamento Participativo deveria ser um veículo para a
tomada de consciência da população em geral e da sua organização em volta de
projetos que pudessem trazer significativas melhorias para a vida da
comunidade.

O Orçamento Participativo deveria ser uma espécie de
casting de novas pessoas com a capacidade de dinamizar projetos na comunidade,
de revigorar os laços entre as pessoas e a sua afirmação como comunidade.
Aqui jaz o verdadeiro problema da fantochada em que o
executivo camarário transformou o Orçamento Participativo em Cascais. O
aparecimento de pessoas com ideias, e com dinâmica para envolver outros
cidadãos num determinado projeto é perigoso para quem quer continuar no poder,
para quem quer continuar a mandar sem muitas perguntas ou opiniões.
Já houve, nos idos anos setenta uma maioria silenciosa.
Em Cascais é mais uma maioria adormecida…
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