REFLEXÕES ELEITORAIS
O ato eleitoral de 29 de setembro último não trouxe boas
notícias.
Carlos Carreiras, líder da coligação Viva Cascais alcançou
a maioria absoluta na Câmara Municipal de Cascais e, conforme as várias
opiniões que aqui tenho expresso nos últimos meses, isso, no meu entendimento
não é uma boa notícia.
Mas, em democracia a lista mais votada é a que ganha e
Carlos Carreiras e a equipa que lidera estão de parabéns.
No entanto, e num preocupante crescendo, estas eleições
ditaram uma abstenção absolutamente exagerada em Cascais, com 62,01% dos
eleitores a não votarem!
106.988 eleitores, dos 172.537 inscritos não participaram
no ato eleitoral! Isto não é uma boa notícia!
Dos 65.549 que participaram, 5.951 votaram branco ou
anularam o boletim de voto. Isto também não é uma boa notícia!
Bastaram cerca de 2,7% dos eleitores para eleger cada um
dos vereadores!
A democracia, em que o processo eleitoral universal é a
mais sublime demonstração de que todos podem participar nas escolhas, está posta
em causa.
Porquê?
Tenho uma leitura, que não é certamente unânime, mas
ainda assim atrevo-me a partilhar com os leitores.
A abstenção crescente é um sintoma direto da falta de
qualidade dos intervenientes na política, nomeadamente nos Partidos Políticos.
O descrédito crescente, emanado de uma classe política
sem ética e com poucos hábitos de falar verdade, os escândalos sucessivos, as
mentiras eleitorais que sistematicamente são debitadas como promessas que
depois não são cumpridas, o manifesto desinteresse no eleitor enquanto pessoa,
têm construído um exército crescente de pessoas que não acredita nos agentes
políticos da atualidade.
Há quem acuse os candidatos dos Partidos Políticos de
serem os grandes responsáveis pela situação a que se chegou.
É parcialmente verdade. Contudo não sejamos apressados a
endossar as culpas. Todos os que se apresentaram a votos têm uma quota-parte de
responsabilidade.
Eu, enquanto candidato derrotado nas eleições para a
Assembleia da União de Freguesias de Carcavelos e Parede tenho também
responsabilidade, ao não ter sabido passar uma mensagem que fosse capaz de fazer
o eleitorado desta união de freguesias acreditar que a minha lista podia
representar uma mudança nos processos e nas atitudes e era merecedora do voto
da maioria dos eleitores. Falhei.
E como eu falhei também os outros candidatos falharam.
Mas a questão que se coloca é pertinente:
Todos, Partidos e Movimentos, que se interessam pelo
fenómeno da Política, estão conscientes que têm que acertar o passo nesta
matéria?
Julgo que a resposta a esta pergunta não é, também, uma
boa notícia.
Os Partidos estão atacados de um autismo, de uma cegueira
que não os deixa ver que estão a um passo do abismo e já levam o pé levantado
para caminhar nessa direção!
Não se vislumbra a mais pequena intenção de corrigir esta
forma de fazer política.
No dia seguinte às eleições, Carlos Carreiras veio logo
zurzir os adversários, ameaçar todos os que não pensam da mesma maneira e
assumem críticas públicas, iniciar processos de chantagem política, mais do
mesmo!
Resta pelo menos ao Movimento SerCascais essa nobre
atividade de não deixar morrer a democracia em Cascais, de continuar a lutar
por trazer uma luz que se instale na consciência de cada cidadão de Cascais e
os faça acreditar que vale a pena lutar pelo concelho, lutar por princípios,
lutar com ética e com verdade.
Eu estou disponível por participar nesse trabalho. E
vocês?
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