Tratolixo - O fim de uma estratégia ou simplesmente sem estratégia?...

Fez ontem 4 anos que participei no último acto público, na qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Tratolixo EIM.
Tratou-se da apresentação de uma comunicação sobre o tema “Reforço de Reciclagem” no âmbito de uma Conferência que decorreu no Hotel Tivoli Tejo.
Neste dia defendi, com base nos números de gestão da Tratolixo e da experiência da implementação do Plano Estratégico de Resíduos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra que a solução era claramente apostar na reciclagem e na reutilização dos resíduos sólidos urbanos e que esta solução era económica e ambientalmente sustentável.
Contra os "amigos da incineração e da facilitação" assumi com clareza uma opção estratégica de promoção das recolhas selectivas.

Infelizmente, nesse mesmo dia estava a tomar posse o novo Conselho de Administração da Tratolixo, a ser presidido por Domingos Saraiva e composto ainda por mim próprio, como Vice-Presidente, Vítor Castro, Luís Realista e Lino Ramos.
Viria a perceber nos dias que se seguiram que as Câmaras deste sistema tinham optado pelo facilitismo, abandonando parte da estratégia que tinha sido traçada em 2003, deixando cair as recolhas porta-a-porta, a recolha selectiva de RUB (Resíduos Urbanos Biodegradáveis, vulgarmente conhecidos por Resíduos Orgânicos) e retirando á Tratolixo algumas das competências que lhe tinham sido atribuídas com a celebração do contrato de concessão, nomeadamente ao nível das recolhas selectivas e da sensibilização.
Domingos Saraiva tinha sido mandatado para iniciar o desmantelamento de toda a estratégia que a Tratolixo liderou durante 4 anos com resultados que estavam à vista de todos. E se não se fez melhor, muito se ficou a dever ao sistemático boicote realizado por algumas câmaras do sistema.
Terminei o meu mandato na Administração da Tratolixo em Dezembro de 2009.
Volvidos 4 anos, penso que é importante fazer-se um balanço e analisar o que mudou, os resultados práticos dessa mudança e, acima de tudo, confirmar se as mudanças realizadas dotaram a empresa de melhores perspectivas de funcionamento e de sucesso para o cumprimento do seu objecto.
Afirmo de forma peremptória que, na minha perspectiva, a Tratolixo piorou qualitativa e quantitativamente.
O abandono da aposta no crescimento da reciclagem trouxe um claro arrefecimento à vontade da população e o decréscimo das recollhas selectivas são um facto.
Também a falta de sensibilização à escala do sistema tem sido um forte impeditivo ao desenvolvimento comportamental das populações, e esse retrocesso é bem visível quando analisamos os números.
Mas este passo atrás nas recolhas selectivas teve um outro impacto importante no sistema e na sua estratégia, porque condenou ao fracasso o Project Finance tal qual foi concebido inicialmente.
As alterações introduzidas trouxeram mais despesa e menos receita, com a redução da previsão de recolhas selectivas e a consequente quebra dos valores das respectivas retomas.
Ora, baixando a receita e aumentando a despesa é fácil perceber o que acontece à tarifa: adeus 29 € de tarifa base do project inicial!
Hoje a grande aposta é empurrar a Tratolixo para os braços da “gorda” EGF.
É um erro de gestão gravíssimo.
A Tratolixo tem uma mais-valia técnica, construída ao longo de uma vintena de anos.
Tem o know-how para desenhar as soluções de tratamento e, não tivesse sido empurrada para esta aventura de mau gosto, teria também condições financeiras de ser dona dos seus destinos.
Mas ainda que se possa entender a necessidade dos municípios em procurar uma injecção de capital na empresa, porquê entregar a jóia de mão beijada à Administração Central quando podiam ser os municípios a manter uma posição dominante na decisão da empresa abrindo parte do capital a privados?
Ainda ninguém conseguiu explicar esta intenção de engordar a galinha da vizinha, integrando a Tratolixo no universo da EGF para um dia destes assistirmos à privatização da EGF…
Infelizmente a política local está cheia de pseudo gurus da gestão e a esmagadora maioria dos cidadãos vai provando o resultado sem perceber as responsabilidades e as causas.
Como de costume, tudo acontece, tudo esquece, e só fica aquilo que os especialistas de marketing político querem que fique à superfície do conhecimento.
É pena.
Os munícipes de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra podiam ter sido protagonistas de um modelo exemplar.
Afinal, vão exemplarmente ser submetidos a um acto de gestão discutível e contribuir com os seus impostos para mais do mesmo!

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